segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

PHIL GUY


Este é um dos shows que você vai não pelo artista em si, mas pelo que ele representa. Phil Guy é o irmão mais novo do mestre Buddy Guy, e confesso que a ideia de ir ao show realizado no Bar Opinião na noite de 29 de março de 1998, foi por esta questão, pois até então nunca havia sequer ouvido falar no cara, quanto mais conhecer seu trabalho. O Blues já começou cedo com a banda argentina Blues Special, que acompanha Phil nesta turnê e com a participação do gaúcho Alexandre Rossi na harmônica.

Já eram 22h quando Phil Guy, empunhando sua Fender Telecaster, a qual toca sem o suo da paleta, ou seja, apenas com os dedos, começa a desfilar clássicos temas do Blues, fazendo um som que mistura a raiz rural do Blues com a vertente urbana de Chicago. Também deve ser ressaltada a qualidade do trio argentino: Adrian Flores (bateria), Julian Diana (guitarra) e Mauro Diana (baixo). Aproximadamente no meio do show, Phil convidou o guitarrista gaúcho Fernando Noronha para uma canja onde tocaram, entre outras, clássicos de Júnior Wells.

Já passava da meia-noite quando Phil perguntou: “vocês querem ir para casa ou continuar a bailar?” Com o delírio do público, detonou uma versão de “Kiss You” dos Rolling Stones e ainda voltou para o bis tocando a clássica “Sweet Home Chicago”. O cara pode ser apenas o irmão mais novo de Buddy Guy, mas o show foi nota dez. 

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Foto: Rosileine Reis
Efeitos: Alex Doeppre

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Renato Velho & Manéco Rocha

A dupla Renato Velho (violão) e Maneco Rocha (percussão) estiveram em Alvorada no dia 02 de agosto de 2013, dentro do projeto 50 Tons de Blues do espaço cultural Subtê, apresentando clássicos e standers do Delta Blues.

Segundo o release do evento: “os músicos Renato Velho, nos violões acústico e dinâmico, Manéco Rocha, tocando Washboard, Spoons e Kazoo, apresentam um panorama musical do Blues acústico nos primórdios de seu surgimento quando eram utilizadas técnicas de Fingerpicking e Slide. Alternando afinações e letras apimentadas do Rag Time com a melancolia do Delta Blues, com músicas de Arthur Blind Blake, Rev.Gary Davis, Blind B. Fuller, CharleyPatton, Robert Johnson, BlindWillie Mc Tell, Tampa Red e Mississippi John Hurt, entre outros”.

Conheci o Renato Velho em uma palestra sobre blues na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre/RS e achei interessante que ao longo da fala ele apresentava as músicas, além de dar dicas sobre como tocar blues ao violão. Depois o Renato apareceu com um trabalho muito interessante de blugrass com a banda Trem 27, com quem chegou a lançar dois discos. O músico também lançou dois discos solos: Estratosférico (2005) e Astenosférico (2012) e ganhou o Prêmio Açorianos de Melhor Instrumentista em 2005.

Na apresentação em Alvorada, Renato e Maneco interagiram com o público contando um pouco da história do blues conforme apresentavam músicas dos mestres do Mississippi, começando com o pessoal do Delta Blues e no final a galera mais moderna de Chicago. O público saiu maravilhado com o espetáculo, inédito em Alvorada, e já ficou na expectativa de um retorno da dupla.

Para conferir Renato Velho e Manéco Rocha ao vivo no Subtê click na imagem abaixo:



Texto: Denilson Rosa dos Reis
Foto: Walter Andrés Cambero
Vídeo: Denilson (gravação) e Anderson ferreira (montagem)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

JEFF HEALEY

Arte de Bira Dantas
Nos dias 17 e 20 de agosto de 1997, ocorreu no Teatro do SESI o RS Guitar Festival tendo como atrações: The Jeff Healey Band, Stanley Jordan, e os gaúchos Solon Fishbone, Fernando Noronha e Frank Solari. No dia 20 fui conferir de perto a performance do guitarrista canadense Jeff Healey e me assombrei com a técnica deste guitarrista, que só para constar, é cego e toca com a mão esquerda sorfe o braço da guitarra como se fosse um teclado.

Antes do show de Jeff Healey coube aos blueseiros gaúchos Solon Fishbone e Fernando Noronha aquecerem o público com uma bela apresentação acústica, embora sejam originalmente líderes de bandas de blues elétrico, não decepcionaram neste set de violão e o acompanhamento de Alexandre Rossi na harmônica. Se todos pensam que eles foram corridos do palco para o início do show de Healey, estão enganados. Eles seguraram muito bem a platéia.

Mas o melhor mesmo foi a apresentação  de Jeff Healey e sua banda, que tocaram numa pressão acústica de 125 decibéis, ou seja, no pico (a média seria de 95), o que apavorou o público no início. Mas logo nos primeiros acordes de Healey o público esqueceu a dorzinha no ouvido e curtiu o show. A ideia que se tem é que o show não tem pique, devido ao problema de visão do guitarrista. Ledo engano, Jeff corre pelo palco, pula, faz miséria, como no final do show em que pisa na guitarra e a estraçalha contra o tablado do palco. O público delíra!

Healey tocou clássicos do blues, composições próprias, foi muito simpático e brincalhão com o público e no bis atacou com a balada arrasa quarteirão “While My Guitar Gently Weeps”, de George Harrison.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Bira Dantas (SP)

domingo, 26 de maio de 2013

NATU BLUES FESTIVAL

Arte de Jader Correa
Natu Blues 2002

Aconteceu em Porto Alegre, nos dias 23, 24 e 25 de abril de 2002, o II Natu Nobilis Blues Festival. O Natu Blues ocorreu em Porto Alegre pois, segundo André Christovam, diretor artístico do evento: “Porto Alegre é a ‘meca’ do blues no Brasil, tem ótimos músicos e um público fiel”. Na noite de abertura tocaram Nasi & Os Irmãos de Blues e Magic Slim & The Teardrops. Infelizmente não pude comparecer neste dia.

No dia 24, chamado de “Celebrity Night”, fui conferir os shows de Carey Bell & Natu Nobilis Blues Band (banda formada por músicos gaúchos para acompanhar o gaitista norte-americano) e Hubert Sumlin & André Christovam Trio. Embora Carey Bell tenha acompanhado os grandes mestres do blues como Muddy Waters e Willie Dixon, seu show foi meio morno. Hubert Sumlin é a lenda viva do mais autêntico blues de Chicago e inspirou feras como Jimi Hendrix e Eric Clapton. Seu show foi bala, o velhinho detonou sua guitarra como um moleque no palco e, ainda de quebra, contou com o apoio do excelente guitarrista brasileiro André Christovam. Durante o show de Sumlin ocorreu a “Celebrity Night”, com Coco Montoya e Big Time Sarah subindo ao palco para uma Jam Session.

No encerramento acompanhei os shows de Big Time Sarah & Blue Jeans (banda paulista escalada para acompanhar a diva) e Coco Montoya & Band. A abertura da noite ficou por conta dos gaúchos da Hoochie Coochie Band. O show de Sarah foi magnífico, a diva conquistou o público com seu vozeirão e sua performance de palco, sem falar que a banda Blue Jeans, que a acompanhou é muito boa. Grande show! Fechando o festival, o guitarrista canhoto, ex-aluno da lenda Albert Collins, Coco Montoya, fez um show mais rock’n’roll, fugindo um pouco do estilo blues. Ótimo festival! Local apropriado (Bar Opinião) e um timaço de primeira! O que podemos querer mais? Só esperar pelo ano que vem.

Natu Blues 2003

A primeira noite abriu com Robson Fernandes Quarteto. Considerado a nova revelação da harmônica (gaita de boca) nacional, Robson fez um show curto mas com bastante energia, digno da abertura do festival. Após tivemos um encontro inusitado, a Natu Nobilis Blues Band, banda formada especialmente para o evento com músicos gaúchos, e o gaiteiro Renato Borghetti. Foi o melhor momento do festival, com Borghetinho ponteando um Blues ou fazendo um duelo com a guitarra bluesy de Fred Sun Walk. Fechando a noite, subiu ao palco o norte-americano John Hammond, considerado um Mestre do Blues.

Para a Segunda noite, abriu os serviços o gaúcho Andy Rodrigues, um dos pioneiros do Blues no estado. Logo em seguida vieram os cariocas da Baseado em Blues, mas que, infelizmente, não tocaram Blues, e sim músicas com influência do Funk anos 70. Fechando o festival, o norte-americano Kenny Neal e a sua The Neal Brothers Blues Band, mostraram aos gaúchos um verdadeiro Blues do Sul dos Estados Unidos. Neal já acompanhou Mestres como Buddy Guy e Junior Wells e, só por aí, dá para imaginar que o cara é fera.

Natu Blues 2004

O show de abertura ficou com Big Chico & The Shuffles. Chico é gaitista da nova geração e sua banda conta com o guitarrista Lancaster. O convidado especial do show foi o mestre do órgão Hammond B3, Deacon Jones, que em seu currículo inclui 18 anos ao lado do lendário John Lee Hooker. Deacon encantou o público com seu carisma e solos performáticos. Na seqüência o gaitista Sérgio Duarte e a banda Entidade Joe fizeram um show com músicas cantadas em português.

Mas a grande atração do festival foi Lucky Peterson, que encerrou a primeira noite. De início a banda de Peterson mostrou que não veio só a passeio. Com uma pegada funky poderosíssima, apresentou um virtuosismo que levantou o público. Mas quando Lucky entrou em cena, logo foi ovacionado, e o mestre retribuiu primeiro no órgão Hammond B3 e depois, para delírio de todos, na guitarra. Foi um show memorável. Na Segunda noite subiram ao palco do Bar Opinião, o gaúcho Gambona, a Natu Nobilis Blues Band com a participação do clarinetista Paulo Moura e a guitarrista norte-americana Deborah Coleman. Vida longa ao Blues!

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Jader Correa (RS)

domingo, 14 de abril de 2013

JOHN MAYALL

Arte de Diego Muller

Quarta-feira, 11 de setembro de 1996, já estávamos começando a nos acostumar com o fim do inverno gaúcho e chega uma frente-fria vinda do Uruguai. Ao mesmo tempo uma frente blueseira chegava da Europa, mais precisamente da Inglaterra, depois de passar pelo centro do país, para uma noite de muito Blues. John Mayall é um daqueles branquelos que nasce com a lama de um ex-escravo de uma fazenda de algodão da época da escravatura no país do Tio Sam. É a primeira apresentação de Mayall em Porto Alegre, e muito esperada pela galera do blues aqui do Sul. Aliás, galera que aumenta a cada show que acontece, o que é muito bom, pois traz mais shows ainda.

O show aconteceu no Bar Opinião, um local que está se tornando imortal pelas celebridades que estão passando por ele. Embora marcado para as 21h, o show começa perto das 22h quando um apresentador grita ao microfone: “The Bluesbreakers”, e três senhores sobem ao palco para uma música de apresentação e aquecimento, até chamarem Mister John Mayall. Mayall sobe ao palco mesmo com a idade visível pelos sues cabelos brancos, muito serelepe, todo de branco e tocando sua harmônica.

Após alguns sets com a harmônica, Mayall vai para os teclados – que eram dois – onde faz alguns duetos de solos com o guitarista, que diga-se de passagem, quase que rouba o show. Foi uma surpresa ver aquele senhor que mais parecia um “lenhador”: gordo, barbudo e todo vestido de jeans, detonar sua guitarra como fez, levando o público ao delírio e aplaudindo-o constantemente. Já o baterista era um senhor um tanto calvo que tocava sua bateria com uma simplicidade de quem estava brincando. O baixista, o mais jovem da trupe, também teve sua oportunidade de mostrar seu virtuosismo, solando em uma das músicas.

Mayall pegou a guitarra em apenas uma música para fazer um som meio ‘funkeado’. Aliás, o show de Mayall apresenta esta diversidade. Ele passeia por várias praias além do blues tradicional: tem muito peso, funk e até pop. Uma das músicas teve um daqueles finais que parecem intermináveis. Mas a música que realmente levantou a galera foi o clássico “All Your Love”, com uma das introduções mais Power da história do blues contemporâneo. Jonh Mayall and The Bluesbreaker tocaram quase duas horas de muito blues, levando o público a pedir bis por duas vezes e sedentos de muito mais.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Diego Müller (RS)

quarta-feira, 6 de março de 2013

VERÃO BLUES

Arte: Laerçon Santos

VERÃO BLUES 1999

No verão de 1999, a Branco Produções, associada com o SESI/FIERGS, promoveram o SESI Verão Blues, com a finalidade de levar o melhor do Blues brasileiro e gaúcho ao público de Porto Alegre. Foram duas datas: 21 de janeiro e 18 de fevereiro. No dia 21, que abriu a noite foi Johnnie Jam, ou melhor, João Maldonado, que trocou os teclados do TNT e empunhou a guitarra neste seu novo projeto. Em seguida veio Fernando Noronha & Black Soul. Noronha já é figurinha carimbada e de talento reconhecido. Sua pegada a lá Steve Ray Vaughan levanta qualquer público. Fernando Noronha tocou algumas músicas de seus dois discos e encerrou sua performance com a versão arrasa- quarteirão de “Voodoo Child”.

A banda escolhida como atração principal do evento foi o Blues Etílicos, tradicional banda de blues carioca e já considerada um clássico do gênero aqui no Brasil. Os caras tocaram por uma hora, num show com poucas músicas conhecidas da banda, preferindo tocar clássicos do blues. De qualquer forma, provaram que é a melhor banda de blues do país, além de um domínio de palco e platéia que só o tempo pode proporcionar. Não posso deixar de destacar a performance do gaitista Flávio Guimarães, certamente um dos melhores do mundo neste instrumento.

No bis, Noronha subiu novamente ao palco para uma ‘jam’ que não foi lá estas coisas, mas depois de mais de duas horas de blues, já estávamos ficando exigentes, é claro. No dia 18 de fevereiro, tocaram Celso Blues Boy e o gaúcho Solon Fishbone

Arte: Marcelo Tomazi
VERÃO BLUES 2000

Dividido em dois dias como no ano anterior, o festival teve uma data em janeiro e outra em fevereiro. O primeiro a subir no palco, no dia 21 de janeiro, foi o guitarrista André Coelho, que fez um show longe do blues e não empolgou o público. A segunda atração da noite foi um Tributo a uma das mais cultuadas bandas do rock sulista norte-americano, Lynyrd Skynyrd. Para o Tributo ao Lynyrd Skynyrd, foi montada uma super banda: Greg Wilson (voz do Blues Etílicos); Beto Werther (batera do Big Allanbik); Ugo Perrota (ex-baixista do Big Allanbik) e Neryno Paulo, guitarrista que ‘incendiou’ o público com seus solos). O Tributo terminou como era previsto, com “Sweet Home Alabama” e a presença do guitarrista gaúcho Fernando Noronha no palco.

Para fechar a noite subiu ao palco os cariocas da Big Allambik. Fazia tempo que escutava o som da banda, mas não havia tido a oportunidade de vê-los ao vivo. Minhas expectativas foram totalmente confirmadas, trata-se de uma das melhores bandas de blues do país. O guitarrista Big Gilson destrói na guitarra, mostrando uma versatilidade que poucos conseguem adquirir, fugindo daqueles solos repetitivos. Outro que surpreendeu foi o vocalista Ricardo Werther, com um recurso vocal comparado a Ed Motta.

No dia 17 de fevereiro, ocorre a segunda noite do SESI Verão Blues 2000 com show de abertura da Hot Stuff Blues, que foi formada na última com músicos da cena local blueseira, entre eles, o baterista Alexandre papel e o excelente tecladista Luciano Leães. A banda trilhou os passos de blues texano, com forte influência de Steve Ray Vaughan. Depois veio a Hoochie Coochie Band, que procura resgatar o blues de raiz. Me senti escutando minha coleção dos “mestres do Blues” durante a apresentação da banda.

A noite fechou com a atração internacional, Phil Guy. Irmão menos famoso do mestre Buddy Guy, Phil animou a platéia comandando uma banda formada por músicos gaúchos e argentinos. Empunhando uma Fender Telecaster, tocada sem palhetas, Phil desfilou clássicos como “Sweet Home Chicago”, para mais de mil e quinhentos apreciadores do blues que compareceram evento.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Laerçon Santos (SP) & Marcelo Tomazi (RS)