quarta-feira, 20 de abril de 2011

BLIND LEMON JEFFERSON: Nó Cego Na Esquina do Blues

Lemon, nome verdadeiro, porque nasceu gordinho como um limão, em 1897, na cidadezinha de Wortham, no Texas. Cego de nascença, Blind Lemon era muito esperto e, de certa forma, compensava a deficiência. Já aos 14 anos, era tão alto como os pais e começava a cantar e tocar violão. Em 1917, aos 20 anos, deu adeus a pai e mãe e pegou um trem para Dallas. O começo na grande cidade foi duro. Por dinheiro figurou em teatros que apresentavam luta livre, pois, como cego era tido com exótico. Foi fazendo contatos e acabou tocando na zona – no chamado red-light district. Lemon tinha integrado à sua música os sons mais primitivos do campo. Agora, ele absorvia a música da cidade.


Paul Oliver define o estilo de Blind Lemon Jefferson:

“Quando cantava, o fazia com um pathos profundo, o sentimento de um homem mergulhado para sempre na escuridão. Sua voz era aguda, seca e tinha uma força cortante que afastava toda hipocrisia e deixava a alma exposta. Com um domínio natural da nuance, ele usava uma quantidade de técnicas vocais, emitindo uma nota com uma precisão total, elevando-a deixando a voz subir e decrescer, entrando em cadência como o apito de um trem no meio da noite. Ao contrário dos bluesmen do Mississippi, o canto de Lemon, próximo do berro, não tinha uma batida insistente. Em vez disso, ele suspendia o ritmo e segurava uma nota para enfatizar uma palavra ou um verso. ‘Martelando’ as cordas, estrangulando-as e usando arpeggios rápidos, Lemon jogava com frases rápidas que estendiam sua linha vocal. Para ele, o violão era uma outra voz e ele freqüentemente usava frases imitativas, num estilo altamente inovador e pessoal.”


Uma brisa de prosperidade acabou soprando sobre Blind: ele agora se locomovia de automóvel, com chofer... é claro. Na metade dos anos 1920, Lemon viajava sem parar. Não demorou para que as gravadoras partissem no seu encalço. Suas primeiras gravações foram produzidas em Chicago, na primavera de 1925, mas o disco só foi lançado no verão de 1926. Em fevereiro de 1926, Lemon gravava pela segunda vez e em abril a Paramount anunciava seu primeiro disco. A paga era ínfima, os royalties eram escamoteados e Jefferson só ficou na Paramount porque Williams o comprava com mulheres e bebida. Com a saída de Mayo Williams, as relações entre Jefferson e a Paramount deterioraram.


Em fevereiro de 1930, o corpo de Blind Lemon Jefferson, 33 anos, foi encontrado congelado na rua, coberto pela neve de um dos piores invernos de Chicago. A inseparável guitarra foi encontrada ao lado do corpo. Morto, Blind Lemon virou herói instantâneo. Em cinco anos de Paramount, ele gravou 79 blues (além de dois gravados para Okeh). Como Mozart na música clássica, como Charlie Parker no jazz, Blind Lemon Jefferson só viveu trinta e poucos anos. Mas foi o suficiente para que o seu gênio proporcionasse muitas décadas de influência que marcaram – e mudaram – a trajetória e a linguagem do blues.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Fonte: Blues – da Lama a Fama (ed. 34)

ANDY JUST


Denilson & Andy
O gaitista (harmônica) californiano de Blues, Andy Just – na foto com este articulista – ganhou recentemente o Prêmio Bay Area Blues Society Award, marcando seu nome como um dos principais do Blues contemporâneo em uma carreira que vem encantando plateias há 30 anos.

Além de gravar músicas para sua discografia solo, que inclui cinco discos, sendo o mais recente “Preaching Blues”, Just também trabalha com trilhas sonoras para o cinema norte-americano e francês, onde se destaca o trabalho para George Lucas no filme “Murder in Mississippi”.

Andy desembarcou em Porto Alegre para três apresentações, sendo duas em um festival de Blues na Serra Gaúcha, e uma em Porto Alegre, no Átrio do Santander Cultural.

O show no Átrio ocorreu dia 20 de março de 2011, onde Andy Just mostrou seu forte timbre de gaita para uma platéia satisfeita com a performance do gaitista. Logo de saída, abriu o show com uma breve “bossa nova” como boas vindas. Em seguida mostrou a que veio, com a clássica “Look Watcha Done” do mestre Magic Sam. Just veio acompanhado dos guitarristas Tiago Cerveira (anfitrião) e Danny Vincent, esse argentino.

Aproveitando a presença de Tiago para traduzi-lo, conversou com a plateia e foi muito simpático, enquanto arrebentava no palco com canções como “Walking By Myself”, de Jimmy Rogers. No final, dois temas instrumentais que consagraram a apresentação de Just.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Informações Biográficas: release