domingo, 11 de dezembro de 2011

BLUESERIA 06



A mistura perfeita dos quadrinhos com a sonoridade do Blues em artigos, biografias e comentários de show escritos por Denilson Reis. Ilustrações de Anderson Ferreira (capa), Laudo Ferreira Júnior, Juliano Machado, Marcel de Souza, Alex Doeppre e Laerçon Santos. E mais, artigo de Valdir Ramos sobre Jimmi Hendrix. 






Serviço: 20 páginas, xerox, R$ 3,00
Pedidos: tchedenilson@gmail.com

RICHARD “RIP LEE” PRYOR


Denilson & Rip Lee

Alguns bluesman trazem no seu DNA a tradição do Blues e, este, parece ser o caso de Richard “Rip Lee” Pryor. Filho do falecido mestre do Blues Snooky Pryor – famoso por eletrificar a harmônica – Rip Lee nasceu em 17 de abril de 1958, em Chicago, Illinois. Muito jovem, pegava as harmônicas que seu pai descartava, para sair soprando, mas quando jovem, tocou mesmo foi guitarra em uma banda de Soul. Só em 1992, formou uma banda de Blues com seu irmão Earl Pryor, tocando guitarra e gaita.

Buscando mais experiência, Rip Lee passou a fazer shows e gravar com seu pai até gravar seu próprio trabalho, o disco “Pitch a Boogie Woogie”, em 1998, onde toca praticamente todos os instrumentos na maioria das músicas. Segundo a crítica, este trabalho pode ser considerado um verdadeiro tesouro do Blues de Chicago. Além  da influência de seu pai, Snooky Pryor, possui grande referência de Jimmy Reed e Big Walter Horton.

Richard Pryor esteve em Porto Alegre dia 27 de novembro de 2011, para apresentação no Átrio do Santander Cultural. Fez uma apresentação calcada na sonoridade da harmõnica, trocando de gaita a cada mudança de tom que a música tocada pedia. Tocou um violão elétrico, onde fazia a condução da música e tentou algum contato com o público. Num primeiro momento, esteve só no palco e depois chamou o baterista argentino Adrian Flores e apresentou músicas de seu disco como "Pitch a Boogie Woogie". Empolgado com a receptividade do público, acabou extrapolando o horário previsto para a apresentação. O público, é claro que agradeceu.

Texto: Denilson Rosa dos Reis

domingo, 6 de novembro de 2011

JIMMY BURNS


Jimmy Burns & Denilson Reis

O bluesman Jimmy Burns (na foto com este articulista), embora contemporâneo, combina as suas raízes do Blues do Delta com as modernidades do Rhythm’blues e o Soul, criando um estilo próprio. Nascido no Mississippi em 1943, começou escutando e amando a música dentro da Igreja e dos Blues que ouvia na rua quando desfilava pelo Delta. Aos 12 anos mudou-se para Chicago e com 16 cantava em grupos vocais com destaque para o Gospel. Enquanto seu irmão mais velho, Eddie Burns, acompanhava o Mestre John Lee Hooker. Mas nos anos 1960 também flertou com o Folk e tocou com Jeff Beck e The Yardbirds. Logo em seguida formou sua própria banda.

Após resolver formar sua família, deu um tempo em sua carreira e ao longo dos anos 1970 e 1980 ficou mais perto de casa, tocando e cantando em clubes e salas de concerto em torno de sua cidade. Sem perder a alma do Blues, Burns volta a ativa em meados dos anos 1990 e acabou ganhando alguns prêmios e indicações ao WC Handy Award – o Oscar do Blues. Fez uma série de apresentações por todo os Estados Unidos, Canadá, Europa e Japão. São três discos próprios e um DVD como registro de sua carreira.

Esta figura importante do Blues norte-americano veio a Porto Alegre para tocar no Átrio do Santander Cultural e apresentar seu novo disco “Leaving Here”. Jimmy mostrou que possui um voz muito marcante e canta com a alma de quem realmente foi influenciado pelo gospel das Igrejas, com muita emoção nas interpretações. Tocou rhythm’blues e baladas, mas impressionou a platéia que o ovacionou quando desfilou standers do Blues dos Mestres BB King e Jimmy Reed. E, ainda emocionou a todos com a balada “Stand By Me” dos Beatles.

Texto: Denilson Rosa dos Reis

BLUES ETÍLICOS


Para lançamento do seu 3º LP “San-ho-Zay” os blueseiros da banda Blues Etílicos fizeram uma apresentação impecável no Teatro da OSPA. Embora sendo uma sexta-feira, o Teatro ficou praticamente lotado e com um público super animado, pois não é sempre que se pode ver uma banda de blues com uma certa consagração, embora aqui tenhamos boas bandas como a Ecos do Mississippi. Em termos musicais o show foi muito bom, pois o teatro tem uma acústica boa, o que propicia que teve vocal, mas o forte da banda é o som instrumental, com ótimos músicos, sem ter um melhor que o outro como acontece em muitas bandas. No Blues Etílicos todos dominam bem seus instrumentos: Cláudio Bredan, baixo; Flávio Guimarães, harmônica; Greg Wilson, guitarra; Gil Eduardo, bateria; Otávio Rocha, guitarra slide. Realmente o show foi ótimo, uma viagem que nos levou ao Mississippi sem sair de Porto Alegre.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Laerçon Santos (SP)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

JOHN HAMMOND


O bluesman John Hammond fez dia 26 de março 1991,  no Salão de Atos da UFRGS sua única apresentação em Porto Alegre dentro de sua turnê pelo Brasil. Mas esta não é primeira vez que Hammond vem ao Brasil, em 1990 ele participou do Festival de Blues realizado em São Paulo. John é um senhor de 47 anos que começou a tocar aos 17 e mesmo sendo filho do grande produtor de mesmo nome não vai muito com o blues elétrico, cultua até hoje o blues acústico e seu maior mestre e herói é nenhum outro senão Robert Johnson. Com 30 anos de carreira, 20 discos gravados e inclusive tendo Jimi Hendrix tendo tocado em sua banda em 1966. John era a grande pedida para uma terça-feira à noite.

Quando as luzes se apagaram e Hammond subiu ao palco, todos aplaudiram, mesmo não sabendo muito bem o que estava por vir. John começou tocando com seu violão acústico e empolgando a platéia que começava a entrar no clima. Ele mostrou muita naturalidade quando uma das cordas de seu violão arrebentou, pegou uma nova e trocou naturalmente. Enquanto estava trocando a corda, tocou apenas com a harmônica para não esfriar os ânimos da platéia. Mas todos realmente deliraram quando Hammond pegou seu violão de aço e com o auxílio de um bottleneck detonou verdadeiras perolas do blues. Além de uma excelente voz, John mostrou uma técnica bastante apurada no modo como toca seu violão, ele provou ser uma lenda do blues.

Após o show comentava-se: “O que nos resta após este show?” – nos resta esperarmos novos espetáculos com este!

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Alex Doeppre (RS)

NUNO MINDELIS AND DOUBLE TROUBLE


Há mais de 10 anos atrás, vi pela TVE um guitarrista de Blues brasileiro tocando clássicos do Blues só com seu violão. Na época eu não era apaixonado pelo Blues como sou hoje, nem conhecia o mestre texano Stevie Ray Vaugham. No inverno de 2000 (25/06) finalmente foi ver de perto aquele guitarrista de Blues, que na realidade não é brasileiro, e sim um angolano radicado no Brasil desde sua adolescência. Para me deixar mais entusiasmado, Nuno veio acompanhado de nada mais, nada menos que a lendária banda de Stevie Ray Vaughan: Double Trouble, ou seja, Tommy Shannon (baixo) e Chris Layton (bateria).

Mindelis veio a Porto Alegre para lançar seu novo CD, Blues on the Outside, o quarto na carreira do bluesman. Os outros foram: Blues & Derivados, Long Distance Blues e Texas Bound. O show ocorreu no Teatro da OSPA, para um público não muito grande – pouco mais de mil pessoas – mas bastante entusiasmado e fiel a tradição do Blues.

Durante cerca de 75 minutos, Mindelis e a Double Trouble tocaram as músicas do novo CD, mas passearam por clássicos do Blues, sem esquecer é claro, os mestres Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan. Foi gratificante ver Mindelis e sua técnica de tocar sem o uso de palheta, além de conhecer de perto Tommy Shannon e Chris Layton.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Anderson Ferreira (RS)

domingo, 7 de agosto de 2011

BUDDY GUY


Buddy Guy é considerado um discípulo de BB King, embora tenha onze anos menos. Mas também é inspirador de músicos como Eric Clapton – quem já não viu Clapton tocando Blues ao lado de Buddy? Guy começou a pegar em guitarra aos 12 anos. Em 1959 era guitarrista na banda de Muddy Waters. Em sua carreira solo fez trabalhos com o gaitista Júnior Wells e fusões com o jazzista Milles Davis. Pois esta fera do Blues esteve em Porto Alegre no dia 03 de dezembro de 1995, tocando no Salão de Atos da UFRGS.

O show estava previsto para as 21h, mas começou como sempre atrasando um pouquinho. No saguão do teatro encontrávamos grandes nomes do Blues gaúcho e da imprensa local, o que dava uma mostra do valor que Buddy Guy representa. Buddy Guy sobe ao palco acompanhado de três excelentes músicos e logo a galera entra em transe com os riffs blueseiros do mestre. Buddy é mais do que um bluesman, é um showman. Não para um minuto no palco, anda de um lado para o outro, agita o público com caras, bocas e gritos. Parece transar com sua guitarra, até fazê-la gemer. Mas ele não fica só no palco, vai até a platéia. Usa as unhas de uma moça como palheta, dá o microfone para a platéia cantar e fica andando pelos corredores do teatro. E o público delira ao tocar no mestre e em sua fender preta de bolinhas. Teve até quem beijasse os pés do mestre, como que o santificando.

Os músicos que tocaram com Guy eram realmente muito bons. O solo do baixista – infelizmente não consegui o nome dos músicos – foi arrasa quarteirão, o cara demoliu. O baterista no final de seu solo saiu correndo em direção a platéia como se estivesse comemorando um gol. Quanto ao guitarrista que acompanhou o mestre, mostrou alma, técnica, e uma excelente voz nas músicas em que cantou. Está pronto para uma carreira solo. Mais uma vez pudemos conferir outra lenda do Blues aqui em Porto Alegre. O show teve aproximadamente 1h e 30min e terminou com a clássica Mustang Sally.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Alex Doeppre

PHIL GUY – QUASE ACÚSTICO


Denilson & Phil
Já havia tido a oportunidade de ver Phil Guy duas vezes. Mas desta feita havia um ingrediente diferente: os organizadores prometeram um show acústico. De qualquer forma, não poderia perder a oportunidade de rever, mais uma vez, o irmão mais novo do mestre Buddy Guy. Isto mesmo, para quem não acompanha o Blues ou lhe falta informação. O sobrenome não é apenas uma coincidência; nas veias de Phil corre o mesmo sangue de Buddy. Mas não é o momento de fazer comparações entre suas carreiras, pois Buddy Guy atingiu o status de Mestre do Blues e aí, não tem comparações: mestre é mestre!
Seja como for, Phil Guy tem uma carreira importante, inclusive tocando na banda de grandes nomes do Blues, como a do próprio irmão. E hoje mantém uma bem sucedida carreira solo, com diversos discos lançados; sete ao todo. Esta apresentação de Guy ocorreu dia 15 de julho de 2007 no auditório Átrio do Santander Cultural em Porto Alegre. Embora o folder anunciasse “uma das raras apresentações acústicas” de Phil, na realidade foi “quase acústica”. Guy, que faz o chamado “blues elétrico de Chicago”, não consegue se separar de sua fender telecaster amarela. Subiu acompanhado de baixo e da gaita de Gaspo, um dos principais nomes da harmônica em Porto Alegre.
Neste formato, guitarra/baixo/harmônica/voz, Phil Guy foi tocando standers do Blues de uma forma simples, como se estivesse em uma esquina qualquer de Chicago, mas com a alma que só aqueles que nasceram e se criaram com o Blues são capazes de fazer. O público, por sua vez, foi caloroso com Phil, deixando-o à vontade, inclusive, para fazer um Blues para Porto Alegre. Depois de 1 hora de Blues, que culminou com a clássica “Sweet Home Chicago”, Phil Guy ainda foi paciencioso para tirar fotos e apertar a mão dos ávidos fãs do Blues.
Ps.: Este artigo é uma homenagem a Phil Guy que morreu de câncer de próstata em agosto de 2008 em Chicago Heights, Illinois, poucos meses após ser diagnosticada.

Texto: Denilson Rosa dos Reis

segunda-feira, 18 de julho de 2011

B. B. KING



Imagem: Alex Doeppre
Na Sexta-feira do dia 17 de novembro de 1995, Porto Alegre teve a sua segunda oportunidade de ver o gênio do Blues: B. B. King. Ele é considerado pai por músicos como Buddy Guy, Eric Clapton e Jimmi Hendrix.

Quando marcava 21h e 35min no relógio, a B. B. King Orchestra formada por Tony Coleman e Calep Emphrey Jr (bateria), Walter King (irmão de B. B.) e Melvin Jackson (saxofone), James Bolden (trompete), Leon Warren (guitarra), James Toney (teclado) e Michael Doester (baixo) sobe ao palco para preparar o clima e apresentar seus instrumentos ao público. Depois de 15min aparece um senhor gordo usando um vistoso casaco dourado: é B. B. King. A partir daí fica difícil descrever o que aconteceu. King é pura alma do Blues. Ele consegue tirar da guitarra aquela nota exata que te leva às profundezas da alma.

O show de duas horas e quase 20 músicas começa com Let The Good Times Roll e a partir disto é só festa. Mesmo com 70 anos nas costas, King consegue eletrizar a platéia, se sacudindo, rebolando, mandando beijos, colocando a mão nas cinturas. Um dos momentos mais lindos foi quando King estava preparando a banda para iniciar nova música e o público começou a gritar seu nome em um crescendo. King não resistiu, parou tudo e foi agradecer a platéia. Falando em agradecimento, a cada solo feito por um dos membros da banda, eles curvavam-se ao mestre, que retribuía, parecendo um relacionamento entre a majestade e seus súditos. Na realidade é o respeito pela figura do Mestre do Blues.

Quando estava passando de 1 hora de espetáculo, o trio de metais retira-se e King senta em uma cadeira para um momento mais intimista (claro que também tem a ver com a idade). Neste set o mestre mostra entre outras, Rock Me Baby – grande clássico do Blues. Quando o show aproximava-se das 2 horas, os metais voltam e King levanta-se para beijar sua Lucille – guitarra que o acompanha há 46 anos – e mostra ao público, que retribui com aplausos. Após a última música, When Love Comes To Town, King começa a jogar ao público uma série de palhetas que são disputadíssimas. Foram duas horas de um memorável espetáculo. Muito obrigado Mister B. B. King.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Alex Doeppre

quinta-feira, 14 de julho de 2011

TIA CARROLL


A cantora de rhythm’n’blues conhecida como Tia Carroll, nasceu em Richmond, na Califórnia, Estados Unidos e, como muitas meninas, começou cantando em igrejas batistas locais. Influenciada por artistas como Stevie Wonder e Sam Cooke, é hoje comparada constantemente com lendas como Aretha Franklin, Koko Taylor e Tina Turner.


Carroll veio ao Brasil para lançar o terceiro disco de sua carreira, “Soul Survivor”. A carreira de Tia Carroll, embora curta, é bastante promissora com vários prêmios conquistados: West Coast Female Blues Vocalist (2007), Traditonal Blues Woman of the Year (2008) e Band Leader of the Year (2009). Apontada como “a nova diva do rhythm’n’blues”, pelo jornal Washigton Post, Carroll é dona de uma voz fascinante e dona de uma senhora presença de palco.

O show de Tia Carroll, em Porto Alegre, foi no dia 12 de junho de 2011, uma boa pedida, pois a data comemora o Dia dos Namorados. Já em sua primeira música, Carroll mostrou que seu repertório é repleto de baladas do rhythm’n’blues ao cantar “Sitting on the Dock of the Bay”, do consagrado cantor Ottis Redding. O público, é claro, agradeceu de forma calorosa, e a partir daí, o clima entre a cantora e a plateia foi de reciprocidade: ela cantando e encantando, e o público aplaudindo e reverenciando. Carroll interpretou suas influências como Aretha Franklin e ainda fez releitura de “Purple Rain”, do Prince. No bis, presenteou-nos com “Summertime”.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Informações biográficas: release

sexta-feira, 17 de junho de 2011

LONNIE JOHNSON – O POETA DO BLUES


Um dos bluesmen mais líricos nasceu na terra do Jazz, Nova Orleans, em 1884, com o nome de Alonzo Johnson. Ele aprendeu violão e violino, o irmão tocava violão, violino, banjo e piano. Como não causavam nenhuma impressão na cidade, resolveram pegar a estrada. De 1917 a 1919, Lonnie participou de um espetáculo musical em Londres. Começou a tocar com orquestras, primeiro num barco a vapor do Mississippi e depois em St. Louis, onde se instalou com o irmão. De repente, a música deixou de ser bom negócio e Lonnie partiu para a luta.

Em 1925, uma competição de Blues sacudiu o Teatro Booker T. Washington em St. Louis durante 18 semanas. O vencedor foi Lonnie Johnson. Os olheiros das gravadoras estavam em cima deste concurso e, dentro de uma semana, Lonnie era contratado pela OKeh e gravava seu primeiro disco. Sua técnica do violão era muito sofisticada, com toques de Jazz. No começo, Johnson gravou em duo e trio. A partir de 1927, gravou com mais acompanhantes, usando pela primeira vez um violão com frente revestida de metal, que tinha um som mais suave e prolongado. No mesmo ano, em Chicago, gravou com o Hot Five de Louis Armstrong. Seus solos entraram para a história do Jazz. Em 1928, Lonnie gravou com Duke Ellington e em 1929 viajou com Bessie Smith.

O ano de 1932 foi uma busca frenética de discos “vendáveis”. Lonnie passou a gravar mais e mais Blues de apelo sexual compondo sob pressão. Depois do período da Depressão econômica em 1937 começou a gravar de novo para a Decca e depois para a Bluebird, da RCA. Em 1945, cedeu à nova moda e aderiu à guitarra elétrica. Muitos acham que foi aí que perdeu o seu estilo. Em 1952. Lonnie viajou até a Inglaterra para uma série de concertos. A redescoberta do Folk e do Blues na virada dos anos 1950/60 o trouxe de novo à tona. Em 1960, promoveram um reencontro de Johnson com Ellington no Town Hall de Nova Iorque. Depois de centenas de gravações, Lonnie Johnson foi morrer em Toronto, no Canadá, em 1970.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Diego Müller (RS)
Fonte: Blues – Da Lama a Fama (Editora 34)

GIGANTES DO BLUES


Porto Alegre ou, podemos dizer, o Rio Grande do Sul, também tem seus “gigantes do blues”. A música que nasceu nos campos de plantações de algodão no Mississipi, sul dos Estados Unidos também tem seus seguidores – sim, o blues é quase uma religião, por isso seus apreciadores são chamados de seguidores – no Rio Grande do Sul. Isto ficou mais uma vez comprovado na festa de 3 anos da Confraria do Blues, evento que leva ao palco do Believe Studio Pub, todas as sextas-feiras, nomes do blues local e até nacional.


Para comemorar estes 3 anos de confraria, a produção chamou ninguém menos do que o ícone do blues gaúcho, Solon Fishbone. O guitarrista foi o responsável por marcar o blues gaúcho no cenário nacional com gravações de discos de reconhecimento em todo o país e com participações nos principais eventos blueseiros do Brasil. Solon também inspirou toda uma nova geração de guitarristas a seguirem os caminhos da escala pentatônica e comporem blues do mais alto nível. O convidado, mais do que de honra, para este show foi Fernando Noronha. Aluno de Solon, Noronha tem conquistado uma carreira internacional, levando o blues gaúcho para os Estados Unidos e Europa, tocando ao lado de grandes nomes e mestres do blues mundial.


Além dos “gigantes” Solon & Noronha, a noite do blues começou com a banda da casa, a Confraria Blues Band, chamando uma série de convidados para dar uma “canja”, seja na guitarra com o Azambuja, no baixo com Luciano Albo, na harmônica com Andy Boy ou nos vocais com Alicia Azambuja. Na noite do dia 04 de dezembro de 2009, o público do Believe apreciou o que há de melhor do blues produzido em Porto Alegre. Ver Fishbone e Fernando Noronha num clima de confraternização levou o público ao delírio mântrico que só o melhor blues pode proporcionar.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CRICKET TAYLOR


Cricket Taylor – na foto com este articulista – nasceu no Mississipi e desde pequena a menina ouviu canções de bluesman como Muddy Waters, ou seja, o blues esta na sua formação. Mudando-se para o Texas, as guitarras ritmadas começaram a fazer parte de sua educação musical, forjando seu estilo musical.

Taylor começa a aparecer na cena blueseira ao ganhar o Prêmio Best Blues Banda, já no seu primeiro ano de atuação nos palcos. A partir daí, seu estilo de mulher fatal foi conquistando fãs que logo descobriram seu vozeirão próprio das grandes cantoras de blues. No seu currículo tem apresentações ao lado de grandes nomes como B.B. King, Etta James, Steve Ray Vaughan e também o roqueiro Jerry Lee Lewis. Suas letras falam de amores perdidos, bem ao estilo da ‘femme fatale’ que incorpora no palco.

Cricket veio a Porto Alegre com apresentação no Átrio do Santander Cultura no dia 03 de abril de 2011, acompanhada do guitarrista carioca Big Gilson, que tem trazido ao Brasil uma série de bluesman. Vestindo um vestido vermelho, Cricket já mostra sua primeira característica: mulher fatal. Mas quando solta a voz, vemos que mais que a sensualidade no palco, ela sabe cantar, e muito bem, além de tocar guitarra com a tradicional pegada texana. Pela metade do show, começa a puxar blues mais ‘guitarrero’ com a clássica “Rock Me Baby”, consagrada na voz de B.B. King. Logo em seguida, ganha o público definitivamente com “You Don’t Have To Go”, de Jimmy Reed.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Informações Biográficas: release

BIG BILL BROONZY: De Mississippi a Chicago


William Lee Conley Broonzy, mais conhecido como Big Bill Broonzy, fez a ponte entre o blues rural e o urbano, entre o Mississippi e Chicago. Nasceu em Scott, Mississippi, em 1893. Ainda garoto – no Arkansas, para onde a família se mudou – fez um violino de uma caixa de charuto e, com um amigo que brincava com uma guitarra de fabricação também doméstica, começou a tocar em festas e piqueniques. Em 1915, aos dezoito anos, Broonzy já estava casado e cuidava de sua própria fazenda. Decidira tornar-se pastor e renunciara ao violino. A seca de 1916 acabou com a colheita, seu gado e suas economias. Foi trabalhar nas minas de carvão até que Tio Sam o pegou em 1917. Passou dois anos no Exército. Em 1920 foi para Chicago. Dizia que não podia mudar a cor da sua cara, mas viera ao Norte para ter tudo o que o homem branco tinha: roupas elegantes, um carrão, uma mulher branca.


Big Bill começou a aprender violão com Papa Charlie Jackson. Suas primeiras tentativas de gravar foram frustradas. O primeiro disco saiu em 1927 – já com 34 anos de idade – e não foi um sucesso. Começou a tocar nos bares do South Side de Chicago. Em 1934, gravando para a Bluebird (uma subsidiária da RCA), tudo mudou: Big Bill começou finalmente a ter sucesso. Encontrando seu estilo fazia um blues ritmicamente esperto, sendo o precursor do rock’n’roll dos anos 1950. O blues de Big Bill, com um pé fincado na lama do Mississippi, apóia-se no rural para se projetar no urbano e no futuro. Já em fins dos anos 1930 ele adota a guitarra elétrica. Em 1937, gravava com bateria e depois, como o seu amigo Tampa Red, tornava-se um pioneiro da guitarra elétrica. Broonzy assinou mais de 300 blues, mas receber os direitos autorais destas canções era outra coisa.


Em 1939, participou do concerto Spirituals to Swing, no Carnegie Hall de Nova Iorque, promovido por John Hammond. Depois da Segunda Guerra, a sede do público branco jovem por heróis do mundo folk rural tirou Big Bill de um emprego de faxineiro no Colégio Estadual de Iowa e o recolocou no circuito dos shows e das gravações. Em 1952, foi convidado a dar concertos na França e iniciou a prática de fazer turnês européias quase todo ano. Foi em Londres que ele publicou, em 1955, sua autobiografia, Big Bill’s Blues: “Alguns negros me dizem que o velho estilo do blues está levando a nossa raça de volta para os tempos da carroça e do cabalo e da escravidão – e quem quer se lembrar da escravidão? Alguns dirão que a escravidão acabou e por que não tocamos outra coisa? Eu digo apenas que não sei tocar outra coisa...”.


Big Bill Broonzy estava no auge da forma – e da fama – quando a voz começou a ratear. Diagnóstico cruel: câncer na garganta. Morreu em agosto de 1958.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Juliano Machado (RS)

Fonte: Blues – da Lama a Fama (Editora 34)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

BLIND LEMON JEFFERSON: Nó Cego Na Esquina do Blues

Lemon, nome verdadeiro, porque nasceu gordinho como um limão, em 1897, na cidadezinha de Wortham, no Texas. Cego de nascença, Blind Lemon era muito esperto e, de certa forma, compensava a deficiência. Já aos 14 anos, era tão alto como os pais e começava a cantar e tocar violão. Em 1917, aos 20 anos, deu adeus a pai e mãe e pegou um trem para Dallas. O começo na grande cidade foi duro. Por dinheiro figurou em teatros que apresentavam luta livre, pois, como cego era tido com exótico. Foi fazendo contatos e acabou tocando na zona – no chamado red-light district. Lemon tinha integrado à sua música os sons mais primitivos do campo. Agora, ele absorvia a música da cidade.


Paul Oliver define o estilo de Blind Lemon Jefferson:

“Quando cantava, o fazia com um pathos profundo, o sentimento de um homem mergulhado para sempre na escuridão. Sua voz era aguda, seca e tinha uma força cortante que afastava toda hipocrisia e deixava a alma exposta. Com um domínio natural da nuance, ele usava uma quantidade de técnicas vocais, emitindo uma nota com uma precisão total, elevando-a deixando a voz subir e decrescer, entrando em cadência como o apito de um trem no meio da noite. Ao contrário dos bluesmen do Mississippi, o canto de Lemon, próximo do berro, não tinha uma batida insistente. Em vez disso, ele suspendia o ritmo e segurava uma nota para enfatizar uma palavra ou um verso. ‘Martelando’ as cordas, estrangulando-as e usando arpeggios rápidos, Lemon jogava com frases rápidas que estendiam sua linha vocal. Para ele, o violão era uma outra voz e ele freqüentemente usava frases imitativas, num estilo altamente inovador e pessoal.”


Uma brisa de prosperidade acabou soprando sobre Blind: ele agora se locomovia de automóvel, com chofer... é claro. Na metade dos anos 1920, Lemon viajava sem parar. Não demorou para que as gravadoras partissem no seu encalço. Suas primeiras gravações foram produzidas em Chicago, na primavera de 1925, mas o disco só foi lançado no verão de 1926. Em fevereiro de 1926, Lemon gravava pela segunda vez e em abril a Paramount anunciava seu primeiro disco. A paga era ínfima, os royalties eram escamoteados e Jefferson só ficou na Paramount porque Williams o comprava com mulheres e bebida. Com a saída de Mayo Williams, as relações entre Jefferson e a Paramount deterioraram.


Em fevereiro de 1930, o corpo de Blind Lemon Jefferson, 33 anos, foi encontrado congelado na rua, coberto pela neve de um dos piores invernos de Chicago. A inseparável guitarra foi encontrada ao lado do corpo. Morto, Blind Lemon virou herói instantâneo. Em cinco anos de Paramount, ele gravou 79 blues (além de dois gravados para Okeh). Como Mozart na música clássica, como Charlie Parker no jazz, Blind Lemon Jefferson só viveu trinta e poucos anos. Mas foi o suficiente para que o seu gênio proporcionasse muitas décadas de influência que marcaram – e mudaram – a trajetória e a linguagem do blues.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Fonte: Blues – da Lama a Fama (ed. 34)

ANDY JUST


Denilson & Andy
O gaitista (harmônica) californiano de Blues, Andy Just – na foto com este articulista – ganhou recentemente o Prêmio Bay Area Blues Society Award, marcando seu nome como um dos principais do Blues contemporâneo em uma carreira que vem encantando plateias há 30 anos.

Além de gravar músicas para sua discografia solo, que inclui cinco discos, sendo o mais recente “Preaching Blues”, Just também trabalha com trilhas sonoras para o cinema norte-americano e francês, onde se destaca o trabalho para George Lucas no filme “Murder in Mississippi”.

Andy desembarcou em Porto Alegre para três apresentações, sendo duas em um festival de Blues na Serra Gaúcha, e uma em Porto Alegre, no Átrio do Santander Cultural.

O show no Átrio ocorreu dia 20 de março de 2011, onde Andy Just mostrou seu forte timbre de gaita para uma platéia satisfeita com a performance do gaitista. Logo de saída, abriu o show com uma breve “bossa nova” como boas vindas. Em seguida mostrou a que veio, com a clássica “Look Watcha Done” do mestre Magic Sam. Just veio acompanhado dos guitarristas Tiago Cerveira (anfitrião) e Danny Vincent, esse argentino.

Aproveitando a presença de Tiago para traduzi-lo, conversou com a plateia e foi muito simpático, enquanto arrebentava no palco com canções como “Walking By Myself”, de Jimmy Rogers. No final, dois temas instrumentais que consagraram a apresentação de Just.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Informações Biográficas: release


quarta-feira, 16 de março de 2011

LEADBELLY: BLUES NA ESTRADA


Ele foi uma espécie de François Villon do Blues. Como o poeta francês do século XV, Leadbelly foi acusado até de homicídio e passou algumas temporadas na prisão. Mas soube transcender a marginalidade graças à sua arte. Não foi apenas cantor e compositor de Blues. Também interpretava canções de igreja, temas infantis, work-songs, baladas folclóricas, cações de cowboy, cações populares e o que mais lhe surgisse pela frente. Tocava piano, acordeão, gaita-de-boca, bandolim e violão de seis cordas, mas seu instrumento principal era o violão de 12 cordas que descobriu no Texas e incorporou como acompanhamento vibrante – com seus acordes rítmicos e figuras de baixo – ao canto áspero intercalado de comentários falados.

Huddie Leadbetter, mais conhecido como Leadbelly (“barriga de chumbo”), nasceu em Mooringsport, Lousiana, em1889. Aos dez anos ganhou de um tio uma espécie de acordeão – um windjammer – e aos 13 anos já tocava nos bailes de Sábado. Aos 15 botou o pé na estrada e foi tentar a vida na cidade, especificamente Dallas.

Em 1917, foi condenado a 30 anos de prisão, mas ficou seis anos, sete meses e oito dias. Em 1930, Leadbelly voltou à prisão. Mas a sorte finalmente chegou. John e Alan Lomax, pai e filho, eram obcecados caçadores-de-sons. Encontraram Leadbelly na penitenciária de Angola. Um ano depois, ele deixava as grades e tornava-se motorista de John Lomax, além de ajudar os Lomax em sua pesquisa de campo.

A carreira do ex-marginal de repente entrou em alta. Em Nova Iorque, Leadbelly tocava para universitários e em clubes, fazia programas de rádio e engajava-se em causas políticas trabalhistas de esquerda. Agradava, apesar de não fazer concessões: “Nunca um branco foi capaz de fazer um Blues, porque não tem nada com que se preocupar, não tem problemas do tamanho dos nossos.” Uma coisa Leadbelly sempre admitiu: a influência de Blind Lemon Jefferson.

Em 6 de dezembro de 1949, Huddie Leadbetter morria no hospital de bellevue, em Nova Iorque devido a uma esclerose lateral amiotrófica, também conhecida como a doença de Lou Gehrig. No início dos anos de 1960, ele foi revivido pelos jovens da canção folk. Em 1988, foi lançado um disco, A Vision Shared, espécie de tributo dos músicos jovens a Leadbelly. As gerações passam, mas a força da música de Huddie Leadbelly permanece, com a mesma vitalidade e urgência dos tempos heróicos do Blues na estrada.

Texto: Denilson Reis
Ilustração: Alex Doeppre (RS)
Fonte: Blues – da Lama a Fama (ed. 34)

DAVE RILEY & BOB CORRITORE


Dave Riley nasceu em Mississipi, mudando-se, ainda adolescente para Chicago. Vivendo próximo da lendária Maxwell Street acabou mergulhando no blues. Após voltar da Guerra do Vietnã, passou a se dedicar a sua carreira blueseira tocando ao lado de grandes nomes e conhecendo Bob Corritore, que cresceu em Chicago e aprendeu a tocar harmônica desde os treze anos de idade.

O encontro da dupla ocorreu em 2004, no King Biscuit Blues Festival, em Helena, Arkansas. A partir daí foi uma parceria que rendeu, até o momento, dois discos: Travelin’ The Road Dirt e Lucky To Be Living, consagrando-os como grandes nomes do blues.

Dave Riley (guitarra/voz) e Bob Corritore (harmônica) – na foto com este articulista – fizeram ótima apresentação em Porto Alegre, dia 21/11/10, no Átrio do Santander Cultural. Apresentaram músicas de seus dois discos e os tradicionais clássicos do gênero como “Sweet Home Chicago”, após brincar com um rapaz da platéia caracterizado como os personagens do filme “Os Irmãos Cara de Pau”, e “Blues It’s All Right” regendo a platéia no coro e nas palmas.

Dave foi muito carismático, conversando e contando “causos” de sua tragédia pelo blues, além de mostrar um “vozeirão” ao cantar. Bob deve ser reverenciado como um dos grandes gaitistas (harmônica) do blues atual.

Texto: Denilson Rosa dos Reis